sexta-feira, 27 de julho de 2007

amor aceita a distância

Não se pode esquecer que o ódio não passa de uma das modalidades do amor, sobretudo quando é
passional. O ódio é uma das modalidades do corpo a corpo que é com certeza muito mais poderosa que o próprio amor.

O amor aceita a distância, eu diria até que não há amor maior que aquele que se exprime com uma amada de que se está separado Ao contrário, o ódio convida a brigar com o outro na intimidade de um e outro. Por isso é que o ódio que manifestaram certos alunos de Lacan para com ele parece-me, no essencial, um avatar do amor de transferência, e de modo algum sua resolução, nem um acesso à liberdade. Tive numerosos amigos que vi desertarem do grupo lacaniano e engajarem-se em posições hostis. Devo dizer que não os achei muito melhores do que aqueles por eles acusados de amor e sujeição a Lacan. Outra causa de ódio: Lacan desfazia toda posição de dominação. Ser seu aluno, levar em conta o seu ensino não dava de modo algum a possibilidade de querer uma carreira de mandarim, fosse de colarinho mao ou de chapéu pontudo. Havia, pois, boas razões para que provocasse ódio.

Vinte e seis anos depois de sua morte, em 9 de setembro de 1981, Jacques Lacan ainda permanece, paradoxalmente, um personagem a ser descoberto. Muito reticente diante do que chamava a “publixação”, não gostava muito de tornar públicos pensamentos, opiniões e até trabalho. Só publicou sua célebre coletânea de textos, os escritos, na idade de 65 anos e só raramente fazia confidências para além do círculo dos íntimos ou dos discípulos no meio da psicanálise. Como se começava uma análise com Lacan? O que ele dizia e como agia “na intimidade”? Por que seu ensino da psicanálise fascinou tanto seus ouvintes? Por que sua influência foi excepcional não só no campo da “saúde mental”, mas também no do pensamento contemporâneo, na França e no exterior? Esse grande teórico, com freqüência reputado ilegível, também foi um grande clínico? A essas questões e a muitas outras estes testemunhos de treze psicanalistas de origens muito diferentes, que foram, para alguns logo após a guerra, membros de seu círculo mais próximo, e quase todos em cura ou em “supervisão” no divã da rue de Lille, fornecem outras tantas respostas. Estas palavras bem livres, muitas vezes “íntimas”, ocasionalmente críticas, trazem uma luz original sobre um personagem excepcional.

pour Alan Didier-Weil in Quartier Lacan



Muito interessante este texto que faz parte do livro Quartier Lacan publicado em abril de 2007 no Brasil.
Concordo, os seguidores de Lacan (e talvez quase todos os seguidores da psicanálise desde Freud) jamais entenderam completamente a essência de seus ensinamentos que foi tão generosamente transmitida muito antes através de gestos do que de palavras.Lacan é um mestre do subjetivo incompreendido; Não temeu ousar, acolheu aqueles que, como ele, não abraçavam o pensamento reprodutivista como meio de operar na clínica e foi generoso com os que não puderam ir além.Criou uma linguagem rica de metaforemas, controversa e hermética na tentativa de suscitar em seus discípulos a capacidade de lidar com o inconsciente, este também usuário de uma comunicação intrincada e de difícil decifração.
Além disto sapecou em todos seu delicioso humor crítico e rascante, destes que o sujeito só entende dez dias depois.Lastimávelmente a turba ignara que ainda prefere não se arriscar a ir além , que prefere não discordar cresce assustadoramente .O reprodutivismo é a resposta principal no meio acadêmico onde o mais das vezes ;"o que se expõe na vitrine nem sempre é igual ao que existe a venda dentro da loja" e a possibilidade de uma leitura transgressora, de uma reinvenção da psicanálise, ou mesmo de um questionamento de qualquer pressuposto teórico da mesma é sempre visto com horror pela ameaça que acarreta.Lastimável... Lacan desfazia sua posição de dominação porém alguns de seus herdeiros ainda chafurnam na mediocridade de sua arrogante soberba intelectual .

sexta-feira, 20 de julho de 2007

Amigos


Um dia, a maioria de nós irá separar-se.
Sentiremos saudades de todas as conversas jogadas fora, das descobertas que fizemos, dos sonhos que tivemos, dos tantos risos e momentos que partilhamos.
Saudades até dos momentos de lágrimas, da angústia, das vésperas dos finais de semana, dos finais de ano, enfim... do companheirismo vivido.
Sempre pensei que as amizades continuassem para sempre.
Hoje não tenho mais tanta certeza disso.
Em breve cada um vai para seu lado, seja pelo destino ou por algum desentendimento, segue a sua vida.
Talvez continuemos a nos encontrar, quem sabe... nas cartas que trocaremos.
Podemos falar ao telefone e dizer algumas tolices...
Aí, os dias vão passar, meses... anos... até este contacto se tornar cada vez mais raro.
Vamo-nos perder no tempo....
Um dia os nossos filhos verão as nossas fotografias e perguntarão:
"Quem são aquelas pessoas?"
Diremos... que eram nossos amigos e...... isso vai doer tanto!
"Foram meus amigos, foi com eles que vivi tantos bons anos da minha vida!"
A saudade vai apertar bem dentro do peito.
Vai dar vontade de ligar, ouvir aquelas vozes novamente......
Quando o nosso grupo estiver incompleto... reunir-nos-emos para um último adeus de um amigo.
E, entre lágrima abraçar-nos-emos.
Então faremos promessas de nos encontrar mais vezes daquele dia em diante.
Por fim, cada um vai para o seu lado para continuar a viver a sua vida, isolada do passado.
E perder-nos-emos no tempo.....
Por isso, fica aqui um pedido deste humilde amigo: não deixes que a vida passe em branco, e que pequenas adversidades sejam causa de grandes tempestades....
"Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!"

Fernando Pessoa

quinta-feira, 19 de julho de 2007

Carpe Diem


Apostila

Aproveitar o tempo!
Mas o que é o tempo, que eu o aproveite?
Aproveitar o tempo!
Nenhum dia sem linha…
O trabalho honesto e superior…
O trabalho à Virgílio, à Mílton…
Mas é tão difícil ser honesto ou superior!
É tão pouco provável ser Milton ou ser Virgílio!

Aproveitar o tempo!
Tirar da alma os bocados precisos — nem mais nem menos —
Para com eles juntar os cubos ajustados
Que fazem gravuras certas na história
(E estão certas também do lado de baixo que se não vê)…
Pôr as sensações em castelo de cartas, pobre China dos serões,
E os pensamentos em dominó, igual contra igual,
E a vontade em carambola difícil.
Imagens de jogos ou de paciências ou de passatempos —
Imagens da vida, imagens das vidas. Imagens da Vida.

Verbalismo…
Sim, verbalismo…
Aproveitar o tempo!
Não ter um minuto que o exame de consciência desconheça…
Não ter um acto indefinido nem factício…

Não ter um movimento desconforme com propósitos…
Boas maneiras da alma…
Elegância de persistir…

Aproveitar o tempo!
Meu coração está cansado como mendigo verdadeiro.
Meu cérebro está pronto como um fardo posto ao canto.
Meu canto (verbalismo!) está tal como está e é triste.
Aproveitar o tempo!
Desde que comecei a escrever passaram cinco minutos.
Aproveitei-os ou não?
Se não sei se os aproveitei, que saberei de outros minutos?!

(Passageira que viajaras tantas vezes no mesmo compartimento comigo
No comboio suburbano,
Chegaste a interessar-te por mim?
Aproveitei o tempo olhando para ti?
Qual foi o ritmo do nosso sossego no comboio andante?
Qual foi o entendimento que não chegámos a ter?
Qual foi a vida que houve nisto? Que foi isto a vida?)

Aproveitar o tempo!
Ah, deixem-me não aproveitar nada!
Nem tempo, nem ser, nem memórias de tempo ou de ser!…
Deixem-me ser uma folha de árvore, titilada por brisa,
A poeira de uma estrada involuntária e sozinha,
O vinco deixado na estrada pelas rodas enquanto não vêm outras,
O pião do garoto, que vai a parar,
E oscila, no mesmo movimento que o da alma,
E cai, como caem os deuses, no chão do Destino.

Álvaro de Campos

quarta-feira, 18 de julho de 2007

Alea Jacta Est

Hoje eu começo. começo esta coletãnea de coisas escritas que propõe um retorno ao pensar.
"Depois de amanhã, sim, só depois de amanhã…
Levarei amanhã a pensar em depois de amanhã,
E assim será possível; mas hoje não… amanhã te direi as as palavras" diria o poetinha. Mas eu cá não tenho alternativa,comecei e a sorte está lançada .
Tenho desde agora um pacto traçado comigo mesma: um dia por vez , mas o que se comece se termine.
Não mais protelar, esquecer ,aguardar acontecimentos.Estou aqui na intenção de propor reflexões sérias mas também fazer rir, lembrar que imaginar faz parte da vida, é necessário e que criar é imprescindível.
Criar é minha sina, meu darma.É meu ofício que busco partilhar.
Sejam bem-vindos