domingo, 18 de janeiro de 2009

De tras pra frente


"... Pelo que vale, nunca é tarde demais..ou no meu caso,cedo demais,
Que seja o que quer ser.
Não há limite de tempo,pode começar quando quiser.
Pode mudar ou ficar na mesma.
Não há regras para isso.
Pode escolher o melhorou o pior da vida.
Espero que escolhao melhor da vida.
Espero que veja coisas que te surpreendam.
Espero que conheça pessoascom diferentes pontos de vista
E espero que viva umavida que se orgulhe.E se acha que não é capaz, espero que tenhas a força..."para começar de novo. "
no Diário de Benjamin in The Curious Case of Benjamin Button de F. Scott Fitzgerald

Ontem estive na festa da minha amiga mais antiga , levei meu amigo mais antigo. E lá no meio da algazarra festejante de meio século de vida, ouvi referências ao tempo. Ao tempo que passa , ao tempo que passou sem que nos dessemos conta... e ali, ao tempo vivido sem presença. Mergulhado na inconsciência.

Ali onde o personagen surreal de Fitzgerald teria, com olhos inocentes e sedentos, vivido a velhice do corpo com a completa virgindade da alma, estavamos nós reunidos. Partilhando nossa experiencia e nossa completa perplexidade e apreensão diante da percepção da inexorável do grand finale que nos é comun a todos .
Era então onde ouviam-se aqui e acolá pipocar os comentários sobre a dicotomia idade, corpo e mente ."Se eu tivesse a cabeça de hoje com trinta anos... " praguejou minha amiga.

Quando ela disse isto pensei em Benjamin com seu corpo franzinho destroçado de artrites, artroses e osteoporoses, aprisionando n'uma mente lúcida, curiosa, inocente, mas, de uma estranha maneira , sábia. Sem em nenhum momento se perguntar : Por que? Como se a origem de sua anomalia não fizesse questão .
De trás pra frente Benjamin viveu intensamente .Cada minuto, cada segundo lutando contra as limitações. Destemido foi em direção a vida, de olhos abertos, muito abertos, vivo, consciência ativa.Isto resultante do fato de que uma única e fundamental percepção esteve presente durante toda sua existência impulsionando-o em direção ao desconhecido: A realidade da morte. Inevitável .
E na aceitação desta verdade da qual nunca escaparemos, da qual não faremos negociação, ele norteou sua vida, traçou os caminhos através do quais curiosamente deixou de ser velho no corpo e tornou-se velho na alma e na mente, que viveu , aprendeu , transformou, viveu e ...esqueceu .
Enquanto nós, desperdiçados, esquecemos, esquecemos e esquecemos durante o viver .Desejando lembrar e lembrar quando estamos ficando velhos . Aí, queremos aprisionar o tempo, ficar pra sempre na existência, não nos tornarmos somente uma memória. Perserverar . Buscamos velhos amigos. Alguns se escondendo do espelho negam o corpo que não se coaduna com a alma que almeja a eternidade. Que sorve cada gotinha de vida pra existir um pouco mais, sem saber o que, mas viver.
Benjamin terá um momento , um unico espaço no tempo no qual estará inteiro e "apropriado", no meio da vida , quando as diferenças de idade entre ele e sua amada foram niveladas , e para viver esta plenitude do amor, ele pacientemente esperou sabendo que viria, pra preceber que este tempo sem diferenças, não existe. E que o amor esteve ali sempre, a despeito delas. Perfeito com rugas e artrites . Parabéns a quem está no meio da vida