quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Ser a Arte

É importante pensar a Arte.

É importante?

Onde está esta coisa em nossa vida?

Afinal qual a implicação deste exercício em nosso cotidiano.

Arte um exercício? Exercício nos remete ao corpo atuante. Mas como pensarmos a arte como algo assim da ordem do físico, algo a ser exercitado? Exercitar. Exército.. Guerra, combate!Sim é algo assim que ocorre. Como o combate entre o visível e o invisível.

O plausível e o inconcebível.

É a diferença entre o estar viva e o vegetar.

Este passo que se dá em direção à concretização de idéias, de sensações, sentimentos.

Idéias que viram poesias, que depois talvez virem músicas.

Emoções que viram misturas de cores e formas ou que emergem da pedra, da argila e de fugazes se transmutam em bronze eterno. 

Sensações, idéias, memórias, sentimentos que se entrelaçam em textos, roteiros, cenas, falas e dão origem a um espetáculo teatral, a uma seqüência cinematográfica.

Narrando a vida, imaginando, criando e reinventando possibilidades. 

Mas, então Arte é só isso? Esta coisa que faz parte, no senso comum, de um mundo de privilegiados. De pessoas estranhas que se dedicam a coisas que, no fundo no fundo, são supérfluas, sem sentido, sem servidão??

 Porque, pra quê, serve a arte afinal??  É importante esta  tal de arte? Faz sentido exercitar esta coisa em nossa vida? Exercitar!!Pelejar! É guerra?

È! A guerra infindável entre o feijão e o sonho.

Entre o viver e o vegetar

 Entre a necessidade e o desejo.

Entre.. voltando: o viver e o vegetar..

Circunavego o tema que me circunavega e me divide cotidianamente e a todos nós que não podemos simplesmente imergir de maneira definitiva neste espaço narcísico, delirante de uma infindável atividade criativa. Porém reabro a questão será a arte algo distante,algo destinado a alguns seletos escolhidos.seres superiores acima do cotidiano infecto da sobrevivência?? Ou não seria ela, ou ao menos sua essência, que é o principio da transformação e recriação, da imaginação pró-ativa, buscadora de novas possibilidades, não seria o motor que nos faz sobreviventes a cada despertar?

Porque criar nem sempre resulta em grandes obras, grandes inventos. Pode ser uma solução tola, pequenina. Um novo olhar sobre uma possibilidade desconhecida ou ao menos antes invisível aos nossos olhos velados de medo diante do novo.

Talvez seja isto o que nos falta em nossa cotianeidade, a negação do impulso de desistência  diante das exigências. A possibilidade de fazer de cada segundo um segundo de criação, de abertura de novas vertentes, de novas variáveis. Abrindo vias marginais de fuga à repetição soterrante.  Combater o bom combate, aniquilar a degradação da alma ofertando a si mesmo o novo. Criar pontes para si mesmo.Para a diferença encarnada que cada um de nós é.

Cinthya Bretas, madrugada de  10/10/2008

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

DO MODELO AO ARQUÉTIPO!

Não passa de um presunçoso o artista que fica no meio do caminho. Os que têm vocação autêntica são aqueles que se aproximam do solo secreto em que a lei primordial alimenta os seus desenvolvimentos.

Qual o artista que não gostaria de morar onde o órgão central de toda mobilidade espaço-temporal - chame-se coração ou cérebro da criação - ativa todas as funções? No colo da natureza, na fonte da criação, onde a chave secreta para todas as coisas é guardada?

Mas nem todos devem ir para esse lugar! Cada um deve se mover no rumo indicado pelas batidas de seu coração.

Na sua época, nossos antípodas de ontem, os impressionistas, tinham todo o direito de morar ao nível do solo, em meio às primeiras raízes e brotos dos fenômenos cotidianos. Entretanto, nosso coração palpitante nos impulsiona mais para baixo, para o fundo, para a origem.

O que surge desse impulso pode ser chamado como quiserem, sonho, idéia ou fantasia, mas só pode ser considerado seriamente quando se liga aos meios plásticos próprios para lhe darem forma.

Então aquelas curiosidades se tornam realidades, realidades da arte, que levam a vida para além do que ela aparenta ser por uma perspectiva mediana.

Porque as obras de arte não só reproduzem com vivacidade o que é visto, mas também tornam visível o que é vislumbrado em segredo. 


Paul Klee  In Sobre a Arte Moderna e Outros Ensaios 


"Toda a obra de arte é filha do seu tempo e, muitas vezes, a mãe dos nossos sentimentos. 
Cada época de uma civilização cria uma arte que lhe é própria e que jamais se verá renascer. Tentar ressuscitar os princípios da arte dos séculos passados só pode conduzir à produção de obras abortadas." 


Wassily Kandisnky
  München, 1910