domingo, 29 de agosto de 2010

Billie Holiday - You Go To My Head

Trânsito nas horas

No meio da rua a porta aberta
deixa escapar a
coisa certa
e rangendo nos batentes
estremece
e avisa:

Pior que perder é deixar ir.
é não tentar
Se arriscar não é perigo
perigo é não querer.

Enquanto a noite solene insone se arrasta
o tempo perdido chora
querendo alguem que o traga à hora

e a hora passa distraida
sem perceber
que leva no colo a vida

e transeuntes minutos
desperdiçam
o desejar
entre o pensar e o agir

e assim a espera medrosa
adia e fica
e o tempo que urge
vai se embora

e o que se almeja se perde
e a furia dos dias
este querer
devora.

sábado, 28 de agosto de 2010

Não quero ser o último a comer-te.

Não quero ser o último a comer-te.

Se em tempo não ousei, agora é tarde.


Nem sopra a flama antiga nem beber-te


aplacaria sede que não arde 


em minha boca seca de querer-te,


de desejar-te tanto e sem alarde,

fome que não sofria padecer-te

assim pasto de tantos, e eu covarde


a esperar que limpasses toda a gala 


que por teu corpo e alma ainda resvala,


e chegasses, intacta, renascida,


para travar comigo a luta extrema


que fizesse de toda a nossa vida


um chamejante, universal poema


Carlos Drummond de Andrade

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Ars Sana in Corpore Sano: Pollyanna

Ars Sana in Corpore Sano: Pollyanna

Pollyanna

Tenho comigo esta maldita sina de ter esperança.
acredito simplesmente
acredito porque é preciso
Acredito porque ..
não sei porque acredito
só sei que se não acreditasse não prosseguiria
não haveria um dia depois de outro dia,um passo depois do outro,um suspiro depois do ultimo
se nao fosse esta maldita esperança que me faz perpetuar ,estaria ai jogada num canto do mundo
ou a sete palmos
cinica,conformada
infeliz por convicção.
Espero , esperançosa
por pura devoção
Ou como quis Antonio Maria, por profissão
porque é disso que me ocupo diante das mazelas da vida
que me são trazidas todos os dias.
E é sobre estas mazelas ,sofreres que reconstruo vidas
que resgato sonhos
que remendo almas
e as devolvo
pra que flanem desassossegadas pelo tempo sem fim de esperançar .
Poderia esquecer que existirá sempre outro dia depois deste
e que as coisas mudam sempre por pior que possam parecer.
e ao final me observo e  pensar assim parece até coisa de filme ou folhetim
 me achando ridícula e imatura me pergunto
Como não apodrece a minha crença eterna nos arco-íris
e nos bons porvires ?
Mas por fim,que seja!Me conformo e aqui não mais espero.
Sou,sou teimosa e prepotente na minha esperança
e continuo até que ela ou eu se esvaiam
e definitvamente abdiquem de esperar.
Será?

domingo, 22 de agosto de 2010

Que reste-t-il de nos amours?

Ce soir le vent qui frappe à ma porte
Me parle des amours mortes
Devant le feu qui s' éteint
Ce soir c'est une chanson d' automne
Dans la maison qui frissonne
Et je pense aux jours lointains

{Refrain:}
Que reste-t-il de nos amours
Que reste-t-il de ces beaux jours
Une photo, vieille photo
De ma jeunesse
Que reste-t-il des billets doux
Des mois d' avril, des rendez-vous
Un souvenir qui me poursuit
Sans cesse

Bonheur fané, cheveux au vent
Baisers volés, rêves mouvants
Que reste-t-il de tout cela
Dites-le-moi

Un petit village, un vieux clocher
Un paysage si bien caché
Et dans un nuage le cher visage
De mon passé

Les mots les mots tendres qu'on murmure
Les caresses les plus pures
Les serments au fond des bois
Les fleurs qu'on retrouve dans un livre
Dont le parfum vous enivre
Se sont envolés pourquoi?

domingo, 15 de agosto de 2010

dementia praecocis

A maldita idade da razão que não me chega nunca.
todos os dias são longos
e as noites curtas
assim como a razão que não me chega 
e minha desrazão que me alucina,
misturando-me do ontem no hoje .
Desespero-me cambiando de lado a lado
pelas profundas lagunas da minha mente
almejando não almejar   
desacreditando de todas as armadilhas das emoções arrasadoras,
das pulsões abrasadoras.
Vagueio vazia pelo deserto árido 
vasculhando sob cada pedra ou
cova profunda na areia seca,
um vestigio, tênue que seja
um sinal.
Onde se encontra a razão 
que me espreita, arisca
querendo se apossar de mim definitivamente?
Que se aposse de vez e me liberte deste 
sofrimento 
de vagar pisando delírios e febres 
e alucinar-te 
onde não existes em minha vida.
vem razão e me esquarteja ,
me compartimenta
em possíveis e impossíveis.
expurga de mim  
esta deriva 
de afetos 
e desejos.
Leva-me pra 
longe de mim mesma.
Na 
calmaria
dos dias insones e sãos.






sexta-feira, 6 de agosto de 2010

urgencia













existe uma estranha urgencia dentro de mim.
como alguem que esta prestes a cruzar uma fronteira.
abrir uma porta lacrada a tempos,
entrando num sotão cheio de segredos.
como alguem que abre uma fenda no tempo
 e acorda de um longo coma
e percebe que está vivo.

algo inquietante me atravessa
e me divide e queima
e me espalha em cinzas
aos quatro cantos.

e em extrema pressa
me sussura ao ouvido
e me estremece
dizendo que eu não perca tempo.

como se a pele fosse rasgada
e dela eu emergisse fera,afoita
desconhecida de mim mesma.
e me gritasse: vai!
e fizesse girar em outra direção
esta espiral do tempo.

 e me desdobrasse em mares, céus e ventos


havia me esquecido que em mim cabia
tamanha imensidão