quarta-feira, 1 de outubro de 2008

DO MODELO AO ARQUÉTIPO!

Não passa de um presunçoso o artista que fica no meio do caminho. Os que têm vocação autêntica são aqueles que se aproximam do solo secreto em que a lei primordial alimenta os seus desenvolvimentos.

Qual o artista que não gostaria de morar onde o órgão central de toda mobilidade espaço-temporal - chame-se coração ou cérebro da criação - ativa todas as funções? No colo da natureza, na fonte da criação, onde a chave secreta para todas as coisas é guardada?

Mas nem todos devem ir para esse lugar! Cada um deve se mover no rumo indicado pelas batidas de seu coração.

Na sua época, nossos antípodas de ontem, os impressionistas, tinham todo o direito de morar ao nível do solo, em meio às primeiras raízes e brotos dos fenômenos cotidianos. Entretanto, nosso coração palpitante nos impulsiona mais para baixo, para o fundo, para a origem.

O que surge desse impulso pode ser chamado como quiserem, sonho, idéia ou fantasia, mas só pode ser considerado seriamente quando se liga aos meios plásticos próprios para lhe darem forma.

Então aquelas curiosidades se tornam realidades, realidades da arte, que levam a vida para além do que ela aparenta ser por uma perspectiva mediana.

Porque as obras de arte não só reproduzem com vivacidade o que é visto, mas também tornam visível o que é vislumbrado em segredo. 


Paul Klee  In Sobre a Arte Moderna e Outros Ensaios 

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